domingo, 27 de julho de 2008

Lo tuyo es puro teatro...


Revendo hoje o filme Mulheres à beira de um ataque de nervos (1988) lembrei dos vários motivos que me fizeram colocar Almodóvar entre meus diretores de cinema preferidos.

A linguagem de Almodóvar é exagerada em todos os sentidos: desde os temas polêmicos e personagens extravagantes até os figurinos e cenários de colorido berrante. Mas a classe com que ele maneja os movimentos de câmera quase nunca é lembrada, assim como sua capacidade magistral de integrar atuações, música e outras artes nos espaços que cria em seus filmes.

Seus últimos filmes são bem comportados se comparados com trabalhos mais antigos como Kika (1993) ou A lei do desejo (1987), mas as marcas de seu estilo de direção continuam visíveis e inconfundíveis. 

Deixo vocês ao som de Puro Teatro, da trilha sonora de Mulheres... Quem canta é a diva cubana La Lupe. A canção resume bem a mistura emoção desbragada e poesia numa performance exagerada em todos os sentidos, bem ao gosto de Almodóvar.

Clique aqui para escutar:

quinta-feira, 10 de julho de 2008

As cidades de Vitor Ramil



Lendo o romance Satolep, do gaúcho Vitor Ramil: uma recriação literária da cidade de Pelotas, experiência muito interessante.

O livro me fez lembrar da música de Ramil, que também é compositor. Mais especificamente, lembrei de uma canção em que ele resume uma teoria recorrente em sua obra: a "estética do frio".


A canção, que tem o nome de Milonga de Sete Cidades (A estética do frio), é um passeio por sete cidades que representam os sete valores principais da estética do frio: Rigor, Profundidade, Clareza, Concisão, Pureza, Leveza e Melancolia.

Gosto muito de lugares usados como metáforas. Ou ainda, metáforas usadas como lugares criados para expressar alguma coisa. Lugares que são expressão pura...

Ouça aqui a canção:



quarta-feira, 9 de julho de 2008

Convite

Segunda-feira que vem, 19h na livraria Cultura.

Lançamento de uma antologia com textos de novos autores de Pernambuco.

Participo com três poemas.

Será que virei "nova literatura"?


segunda-feira, 7 de julho de 2008

Marulho

a mão que alisa meus cabelos
tem o barulho de dentro da concha

assanha os planos e pensamentos
de uma vida bem comportada

(movimento escondido
em forma de asa
no búzio da cabeça)

não preciso abrir os olhos
para ver o gesto da mesma mão
enrolando uma onda de volta pro mar
e fazendo calar o passado insistente

um respiro do céu
desabotoa angústias
na tarde de azul e calma

enquanto cada coisa
encontra seu lugar
nos recantos do vento

domingo, 6 de julho de 2008

sem título

fones de ouvido bem acomodados às formas incertas da cabeça. alta fidelidade na reprodução do silêncio da noite. 
do lado de fora, uma promessa vaga que não chega a se transformar em amanhã. vento quase simples, frio sem passado. as linhas das páginas desarranjadas pela falta de luz. e o tempo escrevendo nos relógios sua música sem movimento.
presente. 
fora do embrulho, os momentos murcham logo. bolhas de sabão. efêmeras oportunidades de beleza no espaço entre as paredes imaginárias deste quarto. plano infinito. janela sem eixo. 
talvez alguma idéia apareça na superfície do próximo instante. ou então, tudo terá sido apenas mais uma onda sem saída. desfeita em água de sonho.

sábado, 5 de julho de 2008

Canção

Zanza daqui
Zanza p'racolá
Fim de feira
Periferia afora
A cidade não mora mais em mim
Francisco, Serafim, vamos embora...

(Chico Buarque, Assentamento)


Versos que valem uma carreira de compositor.