segunda-feira, 17 de setembro de 2007

hai-kai em prosa

beija-flores na chuva. disparam como setas. mais rápidos que os pingos da paisagem móvel. a água não bate nas asas. mas os bicos levam outras gotas. néctar guardado na pressa do vôo. roubado sem rastro além do rumor das flores. zumbido de fuga, abelha de penas. cintila nas costas uma promessa de cor. assim que voltar o sol.

(06/08/07)

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Óculos

ainda não me acostumei a ver tanto assim. nos mesmos lugares por onde sempre passei, meus olhos estranham a ausência do que a memória se acostumou a procurar. o familiar que antes eu encontrava pelos caminhos conhecidos saiu dali sem aviso. mas não há estranhamento. o ser humano não desfaz seus laços sem que as mãos peçam por outros pontos de apoio. de tanto tentar segurar nuvens, meus dedos criaram calos. como os calos que criei segurando as cordas do meu instrumento. foi desafinando o mundo que descobri: agora o prumo se percebe do lado de dentro. onde sempre esteve.