As redes das conexões à distância formam pontes no ar. Palmilhar esses caminhos de vento exige cuidado. No início, tive medo de que não aguentassem meu peso. Dei o primeiro passo como quem pula, já provando na pele a dureza final do chão.
Caí com os dois pés amparados pela percepção do invisível. Caí em pé, descalçado. Caí em cheio na metade-vertigem do mundo. Caí no teto do tempo, pelo lado de dentro da sua casa. Caí sem jeito de ginasta, perdendo a pose. Caí em mim.
De olhos fechados, ouvia a respiração do universo. Pausas mais eloqüentes que qualquer palavra humana. Era o estado puro do som. Matéria-prima do silêncio. O silêncio sagrado. Silêncio perdido no meio do ruído das preces desesperadas. Aqui, o silêncio se fazia não-palavra. Silêncio texto. Sintaxe completa dos sentidos possíveis. Todos.
Senti que já podia baixar os braços abertos. Era como se as direções se misturassem. Os lados se dissolvessem em um só plano. Era líquida aquela dimensão. Minha verticalidade de bípede orgulhoso era apenas costume. Nada poderia me salvar agora.
A morte poderia ser assim, pensei. Mas eram tão vivos aqueles instantes.
Talvez fosse apenas o estranhamento por ter descoberto uma nova possibilidade de caminhar. Talvez fosse o lirismo provocado pela falta de gravidade. Talvez fosse apenas um sonho breve de eternidade.
Nenhuma coisa é certa. Não existe moral da história. Não existe história. Nem fim. Os lados do equilíbrio se anulam em vida.
2 comentários:
Faça mais dessas coisas menino!
saudade de te ler escrito assim!
saudade de saber que não existe moral da história. nem fim. saudade de só ser saudade.
eu
Postar um comentário