terça-feira, 17 de maio de 2011

assombramentos

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o saldo de um fim de semana chuvoso trancado (voluntariamente) em um pequeno teatro junto com outras vinte pessoas participando de um curso teórico foi um assombramento que não quer mais me largar.

a culpada por juntar esse pessoal (e manter todo mundo interessado até o fim do curso) foi christine greiner, e o assunto que levou todo mundo a se juntar foi o butô, fenômeno japonês que (aprendi com christine) vai muito além da dança.

além de o curso ter servido como uma introdução à cultura japonesa em geral, me abriu os olhos para todo um universo underground que geralmente não faz parte da visão estereotipada do japão que temos aqui no brasil.

eu digo underground no sentido mais profundo possível. as cenas que vi durante o curso me impressionaram muito: são imagens de pesadelo tão complexas que beiram o maravilhoso.

minha cabeça volta a estas imagens o tempo todo. ainda não conseguiu digerir os sentimentos ambivalentes que provocam. nem sei se um dia vai conseguir...



(performance da cia. Dai Rakuda Kan. Still do documentário Dance of Darkness, de Edin Velez)






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quarta-feira, 4 de maio de 2011

recklessness and water

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hoje o rádio da minha cabeça resolveu tocar músicas que eu ouvia na adolescência. tocou muitas músicas de tori amos até que chegou no r.e.m e ficou lembrando um dos meus discos preferidos: automatic for the people. o disco tem clássicos como "drive" e "everybody hurts", mas a canção que tocou no meu rádio hoje foi "nightswimming".

trata-se de uma canção rara: não conta uma história, não fala de amor, não contrói um pensamento articulado, é evocação pura. pedaços de memórias, imagens e sensações. tudo solto, pronto para significar qualquer coisa...




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terça-feira, 3 de maio de 2011

o mar do muro

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Xique-xique de Igatu, BA - Janeiro de 2011






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sábado, 30 de abril de 2011

mortos e vivos

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foi neste lugar da foto (Vale do Paty, Chapada Diamantina, coração da Bahia) que recebi, no primeiro dia de 2011, uma indicação preciosa de leitura.

a conversa girava em torno de como morte e vida muitas vezes significam precisamente a mesma coisa. lá pelas tantas, minha recém-amiga citou um artigo do antropólogo Márcio Goldman cujo título me chamou atenção. anotei mentalmente e encontrei o artigo assim que cheguei de viagem, mas só hoje finalmente li o texto.

entre as várias coisas que aprendi com as palavras de Goldman, destaco uma (a frase não é dele, é apenas uma síntese muito minha do que li):

o pleno exercício de uma profissão apenas acontece quando a prática é um permanente questionamento da própria razão de ser do ofício realizado.


obrigado, Carmen...



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quarta-feira, 27 de abril de 2011

postal peruano

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Machu Picchu, Junho de 2008 (foto feita pela querida Gláucia, companheira de viagens)



tempo de limpar gavetas, arrumar estantes e fazer aquelas coisas que sempre ficam para depois na correria cotidiana, entre elas, reencontrar memórias.

esse passo me fez tropeçar em algumas anotações feitas durante uma viagem ao Peru. as primeiras linhas me fizeram lembrar de uma tarde chuvosa em Lima, do rosto simpático do poeta Hildebrando Pérez Grande e de seu infinito conhecimento sobre a cultura de seu povo:

"para os Incas, a vida era dividida em três planos - chão, montanha e céu - representados por três animais - serpente, puma e condor"

mais à frente, um comentário dele sobre a formação étnica do país (ou a minha visão desse comentário: a memória me impede de ter certeza):

"Incas, espanhóis, africanos e asiáticos. a riqueza cultural é grande e variada, mas não houve mistura como no Brasil. cada cultura permanece isolada até hoje, como as ilhas flutuantes do lago Titicaca"

achei a comparação bonita. e tive vontade de conhecer o lago Titicaca. ainda tenho.




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sábado, 16 de abril de 2011

poema

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VOZ


Orelha, ouvido, labirinto:
perdida em mim a voz de outro ecoa.
Minto:
perversamente sou-a.


Antonio Cicero




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sexta-feira, 25 de março de 2011

cores do carnaval

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para comemorar o restabelecimento de minha conexão banda larga após um longo e solitário período utilizando uma precária conexão 3G (coisa que não desejo para ninguém) postei algumas fotos que fiz na já longínqua segunda-feira de carnaval, dia em que aconteceu o já famoso encontro anual de maracatus de baque solto, no espaço ilumiara zumbi, fundado pelo saudoso mestre salustiano. é um carnaval que, infelizmente, pouca gente vê.

eis a primeira foto da seleção. o resto você vê aqui.





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domingo, 20 de março de 2011

poema recorrente

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Eis um poema recorrente. Vira e mexe, aparece entre os meus pensamentos. E sempre que volta, me diz alguma coisa diferente do que eu já tinha lido...


Emissário de um Rei Desconhecido
(Fernando Pessoa)

Emissário de um rei desconhecido,
Eu cumpro informes instruções de além,
E as bruscas frases que aos meus lábios vêm
Soam-me a um outro e anômalo sentido...

Inconscientemente me divido
Entre mim e a missão que o meu ser tem,
E a glória do meu Rei dá-me desdém
Por este humano povo entre quem lido...

Não sei se existe o Rei que me mandou.
Minha missão será eu a esquecer,
Meu orgulho o deserto em que em mim estou...

Mas há! Eu sinto-me altas tradições
De antes de tempo e espaço e vida e ser...
Já viram Deus as minhas sensações...



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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

vozes da voz

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pesquisar muitas vezes significa catar, garimpar, afinar os sentidos e a sensibilidade para perceber ideias e filtrar percepções. um processo muito racional/intelectual mas também muito intuitivo.

a atividade de pesquisa nos ensina a ressignificar palavras aparentemente simples como "conclusão" e "explicação"... e a abrir mão de certezas absolutas e sentidos unívocos. todo método pode ser válido e toda regra pode ser quebrada. com ciência (consciência), em direção ao conhecimento, ao conhecer... caminho sem volta e sem fim.

pesquisar a voz humana (será esta expressão pleonástica? outros seres terão voz?) é como construir a moradia em uma zona de fronteiras múltiplas: entre corpo e linguagem, linguística e fonoaudiologia, som e escrita, fala e canto.

pesquisadores de todas as áreas do conhecimento que têm a voz como objeto de estudo (não são poucas as áreas: fonoaudiologia, canto, musicologia, literatura, teatro, antropologia etc.) diferem em objetivos, abordagens metodológicas e pressupostos teóricos. Apesar das dissonâncias (ou complementaridades?), todos concordam que a voz é um objeto de estudo "fugidio", que parece impossível analisar todos os aspectos do fenômeno vocal, que sempre resta "alguma coisa" que escapa a análises e definições...

a voz está tão ligada à identidade de quem a emite que falamos da voz de um artista como sinônimo de seu estilo pessoal. mesmo no caso de artistas que não produzem obras "sonoras" como no caso de um escritor de livros, por exemplo. obviamente a escrita é uma "língua segunda" que pressupõe e evoca a fala (voz), mas podemos pensar em uma voz feita de gestos como no caso da dança.

"achar a própria voz" parece ser uma etapa importante na vida de todo ser humano. refletindo sobre esta expressão, penso que ela se refere à voz humana num sentido mais profundo: a voz de todos os seres humanos, uma voz que é única e comum a todos nós, mas que também é múltipla porque engloba as emissões vocais de cada pessoa em sua individualidade e idiossincrasias. a própria palavra "pessoa" remete à voz em sua etimologia: persona = per-sonare = soar através (fazer a voz soar através das máscaras do teatro grego).

como já disse um compositor famoso, "somos apenas vozes/ apenas vozes da voz". encontrar as nossas vozes é deixar que elas soem e escutar com atenção o que nos dizem. a escuta atenta precisa do silêncio para acontecer, mas o silêncio já é outra história...




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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

pina bausch em 3D

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estreou no festival de berlim o esperado filme de wim wenders sobre pina bausch.

é daqueles filmes pra se ver no cinema, não só pelo tema mas principalmente porque foi feito em 3D.

pois é, nem só de avatares vive o cinema 3D... imagino que este lançamento não vá atrair filas quilométricas aos cinemas brasileiros - será que algum vai sequer exibir o filme? - mas é no mínimo interessante pensar em um documentário sobre dança contemporânea que utiliza essa tecnologia.

na longa trajetória conjunta entre dança e vídeo, este filme parece que já nasceu como marco histórico.



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quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

ceumar com jazz

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como diria Itamar Assumpção: ouvidos atentos!

atenção para o novo disco da queridíssima ceumar.

acabei de receber e estou saboreando... escute trechos das músicas aqui.



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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Vashti Bunyan

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cantautora britânica que sussurra as canções ao violão.

composições simples e hipnóticas, quase mantras...

ouça uma delas aqui.






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terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Waly Salomão

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acabei de assistir ao filme Pan Cinema Permanente, de Carlos Nader, sobre o poeta-provocador, personagem-performático Waly Salomão, Sailormoon, Marujeiro da Lua...

de tudo que vi, um poema marcou meus ouvidos, o mesmo que dá título ao filme. reproduzo-o abaixo em vez de comentar qualquer coisa.



PAN CINEMA PERMANENTE

para Carlos Nader


Não suba o sapateiro além da sandália
- legisla a máxima latina.
Então que o sapateiro desça até a sola
quando a sola se torna uma tela
Onde se exibe e se cola
a vida do asfalto embaixo
e em volta.









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sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Hadestown

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já falei por aqui da cantautora americana Anaïs Mitchell. ela finalmente lançou em disco a trilha sonora do espetáculo Hadestown, uma "folk opera" que (como o título já indica) reconta a história mitológica de Orfeu e Eurídice.

as canções de Anaïs são ótimas, simples e certeiras, inteligentes e fáceis de cantarolar. além disso, sua versão do mito é bem interessante.

destaque para a participação especial da mui querida Ani DiFranco como Perséfone.




escutem!



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sábado, 27 de novembro de 2010

amor e negócios

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um clássico da canção espanhola em duas versões.


"la bien pagá" por Miguel de Molina (ele canta/compra)




"la bien pagá" por La Shica (ela canta/vende)








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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

engolindo sapos

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dia 01/12 tem debate no espaço pasárgada, na legendária casa do avô de manuel bandeira, ali na rua da união.

pelo que entendi, teremos três temas principais: cinema, educação e corpo, ligados pela questão "transformadora".

coube a mim falar sobre o corpo. tema um tanto amplo para um debate assim. mas achei que o nome do evento já me dava uma dica de que a coisa não seria fácil... enfim, aceitei o convite e espero poder dar uma pincelada em alguns tópicos que me interessam.

agora percebo que não fiz uma pergunta básica aos organizadores do evento: que corpo é este? pois é, acho que vou ter que fazer esta pergunta ao público que aparecer lá na casa do avô de manuel bandeira no dia primeiro...

apareçam se puderem e quiserem.


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domingo, 14 de novembro de 2010

oktomat

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algumas das primeiras fotos feitas com minha lomo oktomat. a qualidade da impressão está péssima, mas achei que as falhas e manchas deram um charme a mais às imagens.

metade das fotos me deixou satisfeito e a outra metade me fez entender que ainda preciso de prática com essa máquina... mas este primeiro rolo de filme foi experiência pura, sem nenhuma preparação prévia. já descobri alguns truques que funcionam bem, mas o aprendizado continua.

vamos que vamos!











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domingo, 7 de novembro de 2010

agenda de novembro



Quinta-feira: 11 de Novembro de 2010

Local: Faculdade Frassinetti do Recife FAFIRE


19h Mesa Redonda: Literatura, Artes Plásticas e Cinema

“A construção da Espanha através de Pedro Almodovar”
Alexandre Furtado, poeta, professor da FAFIRE

“ O Brasil em várias vozes: poetas, cantores, cantadores e contadores”.
Conrado Falbo, professor e tradutor.

“Arte e Simbolismo Temático”
Vera Sato, escritora e artista plástica


(clique na imagem para ampliar)


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sábado, 16 de outubro de 2010

travessia

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MERCADO EUFRÁSIO BARBOSA | OLINDA | de 14 a 25 de outubro | de quinta a segunda, às 20h

“Travessia” é a segunda parte de uma Trilogia em dança intitulada Uma história duas ou três. Nesta Trilogia, o Grupo Grial de Dança empreende uma incursão pelo universo mágico e poético da Literatura de cordel e de tradição oral decorada – romances, pelejas e cantigas – para reinterpretá-lo a partir do vocabulário da dança contemporânea.

“Travessia” é um mergulho festivo na caminhada milenar da contação de histórias. No desejo de reforçar os elos que nos ligam às origens mais remotas da cultura brasileira, o Grial parte da “contação” inicial representada pelas pinturas e insculturas das nossas itaquatiaras (principalmente da Pedra do Ingá, no agreste paraibano), até chegar às versões mais recentes de histórias transmitidas pela oralidade e cuja autoria inicial se perdeu no tempo. Histórias que formam a nervura central da nossa personalidade criadora, cujos fios se estendem através das gerações e são ludicamente tecidos pelo Grial, que procura, por sua vez, encontrar novas possibilidades de contá-las, mantendo acesa a chama dessa tradição.

“Travessia” é ainda uma Celebração aos grandes contadores de histórias do nosso tempo, e que aos poucos vão se encantando, na maioria das vezes sem deixar herdeiros que dêem continuidade ao seu legado artístico. É, sobretudo, uma especialíssima homenagem à memória de D. Militana, uma vez que a idéia desse espetáculo nasceu quando a escutamos cantar os seus romances. O Grial deseja celebrar a sua arte e agradecer a sua herança.

Duração: 50 minutos
Classificação Etária: livre
Entrada Gratuita com limite de vagas.

FICHA TÉCNICA
Concepção e Coreografia: Maria Paula Costa Rêgo
Direção de Arte e Cenário: Dantas Suassuna
Consultoria Artística: Conrado Falbo e Eric Valença
Intérpretes: Aldene Ferreira, Dayse Marques, Emerson Dias, Fábio Soares, Iara Campos, Iara Sales, Joab Jó.
Cantadeira: Nice Teles
Figurino: Andrea Monteiro
Trilha Sonora: Publius Lentulus e Claudio Rabeca
Desenho de Luz: Luciana Raposo
Preparação Corporal: Fred Santos (Ioga), Victor Monteiro (RPG e Pitates) e Conrado Falbo (voz)
Produção Executiva: Carla Carvalho
Direção Técnica: Almir Negreiros
Identidade Visual: Grupo Paés
Fotos: Marcelo Lyra
Assessoria de Imprensa: Flora Noberto
Incentivo: Prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna 2009
Realização: Grupo Grial de Dança



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terça-feira, 28 de setembro de 2010

o espelho




más allá de cualquier zona prohibida
hay un espejo para nuestra triste transparencia


(alejandra pizarnik, do livro árbol de diana)



existe alguma coisa neste poema que denuncia uma esperança escondida por baixo da aparente desilusão.



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