Na eternidade, ninguém se julga eterno.
Aqui, nesta estada, penso que vou durar
além dos meus anos, que terei
outra chance de reaver o que não fiz.
Se perdoar é esquecer, me espera o pior:
serei esquecido quando redimido.
Não me perdoes, Deus. Não me esqueças.
O esquecimento jamais devolve seus reféns.
A claridade não se repete. A vida estala uma única vez.
(Carpinejar, Do livro 'Biografia de uma árvore')
segunda-feira, 28 de janeiro de 2008
sábado, 26 de janeiro de 2008
Rio
a vida do rio acontece apenas no ato de fluir. em suas águas, leva um universo indistinto que mistura passados e presentes, saudades e presenças, durações e intermitências...
as garças que redesenham contornos nas margens não imaginam que o silêncio ambiente está grávido de vozes tão velhas quanto o próprio mundo. quando chove, e as gotas órfãs de céu procuram abrigo na correnteza, parece que tudo fica suspenso. todo fio de pensamento é pequeno na frente de tanto infinito.
agora a paisagem já se veste de luzes e azuis. nuvens mansas navegam acima da linha do olhar. voltam para dentro da minha cabeça os barulhos prosaicos de sempre. é hora.
mas uma nova leveza nasceu. sinto que caminha por minhas entranhas. rarefeita. transparente. quase imperceptível. e, sem dúvida, líquida.
as garças que redesenham contornos nas margens não imaginam que o silêncio ambiente está grávido de vozes tão velhas quanto o próprio mundo. quando chove, e as gotas órfãs de céu procuram abrigo na correnteza, parece que tudo fica suspenso. todo fio de pensamento é pequeno na frente de tanto infinito.
agora a paisagem já se veste de luzes e azuis. nuvens mansas navegam acima da linha do olhar. voltam para dentro da minha cabeça os barulhos prosaicos de sempre. é hora.
mas uma nova leveza nasceu. sinto que caminha por minhas entranhas. rarefeita. transparente. quase imperceptível. e, sem dúvida, líquida.
sexta-feira, 25 de janeiro de 2008
Zensider
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Música de Edvaldo Santana e Ademir Assunção, na voz de Titane.
CD: Sá Rainha. Lapa Discos, 2000.
quinta-feira, 24 de janeiro de 2008
Recital
nunca amar
o que não vibra
nunca crer
no que não canta
(Orides Fontela)
guardada dentro do silêncio. é assim que ressona a muda memória da madeira. aquela que não apreende imagens, apenas vibrações. lá fora pode chover ou secar, mas aqui se respira o passado que ainda se move pelo interior das paredes. as paisagens se metamorfoseiam em fragmentos de cidades. mesmo assim, é raro que se registre algum sentido nas linhas deste livro cego. outras madeiras, mais móveis, andam através dos passos de outros entes. podem até refletir o céu dos dias abertos. mas também vivem presas atrás da capa transparente dos vernizes mais brilhantes. o que vibra nem sempre canta nos olhos de quem vê sem enxergar as notas evidentes de um presente real.
quarta-feira, 16 de janeiro de 2008
Da chuva...
não chega a fazer frio, mas é preciso acender as luzes da casa antes do tempo. a grande nuvem entra pelo vidro das janelas fechadas e traz para dentro o cinzento do céu que tentamos a todo custo manter do lado de fora.
o mundo suspenso durante um segundo de dúvida: no silêncio do telefone soa uma música incerta de espera e ambigüidade. dias de sol que adiaram seus verdes e azuis para talvez brilhar em outras praias.
agora que a água lavou todos vestígios da passagem de um impaciente carnaval, as ruas podem se vestir novamente com o vazio de passos ausentes. eles fazem barulho durante a madrugada, andando em direção a lugares que não chego a sonhar, ocupado com meu óbvio umbigo.
ainda ontem percebi que caminhava flutuando, preso ao cheiro invisível dos pingos de chuva não-derramados. como saber se vão cair? e se não forem, o que fazer com o preto inédito do guarda-chuva?
a promessa do amanhã leva no vento a passagem das horas. mas o que permanece sabe intuir a própria capacidade de enxergar no escuro. através dos vidros. e de usar a chuva como ferramenta para não esbarrar em janelas fechadas.
o mundo suspenso durante um segundo de dúvida: no silêncio do telefone soa uma música incerta de espera e ambigüidade. dias de sol que adiaram seus verdes e azuis para talvez brilhar em outras praias.
agora que a água lavou todos vestígios da passagem de um impaciente carnaval, as ruas podem se vestir novamente com o vazio de passos ausentes. eles fazem barulho durante a madrugada, andando em direção a lugares que não chego a sonhar, ocupado com meu óbvio umbigo.
ainda ontem percebi que caminhava flutuando, preso ao cheiro invisível dos pingos de chuva não-derramados. como saber se vão cair? e se não forem, o que fazer com o preto inédito do guarda-chuva?
a promessa do amanhã leva no vento a passagem das horas. mas o que permanece sabe intuir a própria capacidade de enxergar no escuro. através dos vidros. e de usar a chuva como ferramenta para não esbarrar em janelas fechadas.
sexta-feira, 11 de janeiro de 2008
Pérola
Changer
(Anaïs Mitchell)
if I can't keep it
at least let me call it by name
that was called falling
this is called pain
it's called love, what I'm losing
I know love is a stranger
I know that changes come
I know love is a changer
I'm gonna go quietly
you don't have to tell me to
just let me lie a little longer next to you
I'm not trying to bother you
I'm just trying to breathe you in
and then I will leave you there
where you are sleeping
but speaking of loving you, I do
I'm telling you stranger to stranger
whatever changes come to you
I'm telling you changer to changer
morning has stolen your shadow from me
but I hold its shape in my mind
it's the shape of your back when you turned it on me
one last time
out in the waking world
nobody understands
exactly how light it is
exactly how free I am
one minute I'm laughing
and the next one I'm lost
I'm watching the birds fly by
I'm watching the highways cross
speaking of loving you, I do
I'm telling you stranger to stranger
whatever changes come to you
I'm telling you changer to changer
if I can't keep it, at least let me call it by name...
mais sobre Anaïs Mitchell aqui
(Anaïs Mitchell)
if I can't keep it
at least let me call it by name
that was called falling
this is called pain
it's called love, what I'm losing
I know love is a stranger
I know that changes come
I know love is a changer
I'm gonna go quietly
you don't have to tell me to
just let me lie a little longer next to you
I'm not trying to bother you
I'm just trying to breathe you in
and then I will leave you there
where you are sleeping
but speaking of loving you, I do
I'm telling you stranger to stranger
whatever changes come to you
I'm telling you changer to changer
morning has stolen your shadow from me
but I hold its shape in my mind
it's the shape of your back when you turned it on me
one last time
out in the waking world
nobody understands
exactly how light it is
exactly how free I am
one minute I'm laughing
and the next one I'm lost
I'm watching the birds fly by
I'm watching the highways cross
speaking of loving you, I do
I'm telling you stranger to stranger
whatever changes come to you
I'm telling you changer to changer
if I can't keep it, at least let me call it by name...
mais sobre Anaïs Mitchell aqui
quinta-feira, 10 de janeiro de 2008
movimento
não a mudança vazia que se veste de cascas mortas para preservar a todo custo um futuro mal sonhado. não a beleza oca de cores fugidias que serve apenas para entreter as retinas já cansadas de sua sina transparente. não as folhas que caem perpetuando ciclos arcaicos e incontestes de uma imutabilidade que se irmana ao trágico da morte. muito menos a carícia leve do vento que apenas finge passar para atingir finalidades outras que não o seguir seu caminho de ar.
o mundo está cheio de gente que acredita na metamorfose das coisas. essa gente tem razão sem saber. o que chamam de passagem não se mede com calendários. o que chamam de caminho não é o trajeto do trabalho à casa. o que chamam de mudança não são os óbvios que cultivam com tanto afinco.
se eu disser que conheço a natureza do fluir estarei mentindo. mas sei que nunca nada permanece. o essencial de tudo é efêmero. é esta a nota fundamental, o mínimo indivisível comum, a célula que pulsa por trás das intenções declaradas de um 'sempre' imaginário.
desejo o devir. abraço o etéreo num instante de irrepetível beleza. e que venham as areias do tempo a cobrir lembranças e reconstruir a memória. a cada página escrevo por cima do antigo texto dezenas de novas frases. de tudo fica o rascunho sempre inacabado e nunca passado a limpo. o borrão. traços que vão se confundindo em seus sentidos de cicatriz. e os mil riscos de viver. para sempre renovados em novas caligrafias.
o mundo está cheio de gente que acredita na metamorfose das coisas. essa gente tem razão sem saber. o que chamam de passagem não se mede com calendários. o que chamam de caminho não é o trajeto do trabalho à casa. o que chamam de mudança não são os óbvios que cultivam com tanto afinco.
se eu disser que conheço a natureza do fluir estarei mentindo. mas sei que nunca nada permanece. o essencial de tudo é efêmero. é esta a nota fundamental, o mínimo indivisível comum, a célula que pulsa por trás das intenções declaradas de um 'sempre' imaginário.
desejo o devir. abraço o etéreo num instante de irrepetível beleza. e que venham as areias do tempo a cobrir lembranças e reconstruir a memória. a cada página escrevo por cima do antigo texto dezenas de novas frases. de tudo fica o rascunho sempre inacabado e nunca passado a limpo. o borrão. traços que vão se confundindo em seus sentidos de cicatriz. e os mil riscos de viver. para sempre renovados em novas caligrafias.
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