terça-feira, 26 de maio de 2009

experiências estrangeiras

[métrica japonesa, idioma inglês, tentativas iniciais]


English Haiku



the void voice of rain

whispers to the street beggar

a song of regret



moss on the full moon:

toads mistake it for a stone

in the mating pond



spring breeze is serving

the lazy caterpillars

green sprouts for breakfast



grains of sand in sight:

the wind keeps me from looking

at my lover’s eyes



my mother told me

my verse was right as a plum:

sweet little white lie



bright red tomato

falls down on the kitchen floor:

salad’s on the house



time of autumn leaves:

every poet’s fallen words

get swept away too



“later” - I was told

“now or never” - I replied

silence still resounds




.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Debate e cantoria

PPGL & CRISPIM: Canção popular

 

O Programa de Pós-graduação em Letras da UFPE, em parceria com a revista Crispim (www.revistacrispim.com) promoverá, no próximo dia 28 de Maio, a partir das 19:00 h, um debate sobre o tema Canção popular. Os editores da Crispim conversarão com Conrado Falbo (músico e aluno do Programa de pós-graduação em Letras da UFPE) e Peron Rios (professor e pesquisador).

A música erudita e a música popular são tão diferentes uma da outra o quanto pensamos? Ainda é pertinente o reiterado debate sobre o estatuto literário das letras das canções populares? Que desafios teóricos a pesquisa sobre canção popular cria para o pesquisador e crítico? Existe um conceito satisfatório do que seja música popular? Há formas poéticas que são mais adequadas à canção do que outras? O que é performance e como este conceito pode nos ajudar a entender a realização das canções?

Estes e outros temas estarão na pauta do nosso debate, que não somente contará, como cantará: além dos debatedores, teremos a presença das cantoras Adryana BB e Aparecida Silvino que, junto com Conrado Falbo, mostrarão um pouco das suas canções.

 

PPGL & CRISPIMCanção popular

Data: 28 de Maio, a partir das 19 h.

Local: Livraria Cultura.

Convidados: Conrado Falbo & Peron Rios + Adryana BB & Aparecida Silvino

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Zé Rodrix

Conheci Zé Rodrix em 2005 e ele cantou uma composição chamada "Sempre que eu vou morrer". Nunca deixei de ouvir os ecos desta canção, que hoje ganhou um significado novo...

Sempre que eu vou morrer
(Zé Rodrix e Alexandre Lemos)

Sempre que eu vou morrer
Antes eu me preparo
Tanto pra esquecer
Quanto pro itinerário
De voltar a nascer
Quando for necessário

Sempre que eu vou morrer
E isso não é tão raro
Cuido pra não sofrer
Dentro desse mistério
Trato de compreender
Que nada é assim tão sério

Tempo vem e tempo vai
Água e terra, mãe e pai
Quem enfrenta o nascimento
Ganha a morte no final
Vou descendo e vou subindo
Numa mesma espiral
Uma estrada tão comprida
Onde a vida é imortal

Sempre que eu vou morrer...

Sempre que eu vou morrer
Eu fico triste, é claro
Pela dor de perder
O gozo e o martírio
Ainda bem que viver
Pode ser só delírio

Tempo vem e tempo vai
Água e terra, mãe e pai
Quem enfrenta o nascimento
Ganha a morte no final
Vou descendo e vou subindo
Numa mesma espiral
Uma escada tão comprida
Onde a vida é imortal

Sempre que eu vou morrer...

Sempre que eu vou morrer
Respiro fundo e paro
Esperando por bem
Que seja a derradeira
Mas cada morte que vem
parece sempre a primeira



Ouça aqui

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Mario Benedetti

Morreu ontem aos 88 anos o poeta uruguaio Mario Benedetti.

Benedetti hoje vive em sua obra, que já inspirou tantos (inclusive este que vos tecla).

Lá vai Benedetti:

OTHERNESS

Siempre me aconsejaron que escribiera distinto
que no sintiera emoción sino pathos
que mi cristal no fuera transparente
sino prolijamente esmerilado
y sobre todo que si hablaba del mar
no nombrara la sal

Siempre me aconsejaron que fuera otro
y hasta me sugirieron que tenía
notorias cualidades para serlo
por eso mi futuro estaba en la otredad

El único problema ha sido siempre
mi tozudez congénita
neciamente no quería ser otro
por lo tanto continúe siendo el mismo

Otro si digo / me enseñaron
Después que la verdad
Era más bien tediosa
El amor / cursi y combustible
La decencia / bastara y obsoleta

Siempre me instaron a que fuera otro
Pero mi terquedad es infinita

Creo además que si algún día
me propusiera ser asiduamente otro
Se notaría tanto la impostura
que podría morir de falso crup
o falsa alarma u otras falacias

Es posible asimismo que esos buenos propósitos
sean sólo larvadas formas de desamor
ya que exigir a otro que sea otro
en verdad es negarle su otredad más genuina
como es la ilusión de sentirse uno mismo

Siempre me aconsejaron que escribiera distinto
pero he decidido desalentar / humilde
y cautelosamente a mis mentores

En consecuencia seguiré escribiendo
igual a mi o sea
de un modo obvio irónico terrestre
rutinario tristón desangelado
(por otros adjetivos se ruega consultar
criticas de los últimos treinta años)
y eso tal vez ocurra por que no sé ser otro
que ese otro que soy para los otros.



quinta-feira, 14 de maio de 2009

Sounded like applause...

Hoje pela manhã, em conversa com Cristhiano, falamos sobre o grande abismo que ainda parece existir entre a criação artística e a reflexão crítica sobre a arte. Cristhiano lembrou de preconceitos que justificam esse distanciamento, como o de que "arte é algo para ser sentido e não analisado", idéia ligada ao mito romântico do gênio criador, solitário e atormentado. Falei que me impressiona a facilidade com que algumas pessoas se tornam (ou pelo menos crêem se tornar) artistas: alguém faz alguma coisa, alguéns batem palmas, e eis mais uma estrela que nasce... 

Tudo isso me fez lembrar de uma canção de Joni Mitchell gravada em 1972. [em um disco lançado um ano depois do legendário Blue, que consagrou definitivamente Joni como compositora e acabou se tornando um marco na história da música popular] A canção se chama For the roses, e dá título ao disco. É uma balada melancólica que fala do lado complicado de conciliar a fama e o trabalho de criação. A seu modo confessional, Joni acaba fazendo uma crítica a todo o sistema envolvido na indústria do entretenimento; uma crítica que permanece atual quase 40 anos depois...

(desenho de joni Mitchell: incialmente pensado para a capa do disco, foi substituído por sugestão da gravadora)

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Extra! Extra!

Ceumar [amiga querida, cantora maravilhosa, compositora talentosa] lançou CD. 

Dá pra ouvir tudinho aqui!

Quem mora em SP, corra: ela está fazendo shows de lançamento no teatro FECAP (este fim de semana é a última chance de ver!)

(Ceumar nos tempos do disco Dindinha)

O texto abaixo eu tirei do fundo do baú: estava na página NEMPB, onde ouvi falar de Ceumar pela primeira vez, anos atrás...

"Meu nome é Ceumar, nome inventado pela minha mãe. Já vi homem com este nome, também vi escrito com L no meio. Com S eu não conto, não tem o sentido de firmamento. Meu objetivo na vida é ser tão simples como são o céu nosso de todo dia e o mar que a gente vai curtir no verão. Mesmo que a natureza vá variando à seu gosto, o céu e o mar estão sempre no lugar... A música, pra mim, às vezes é barco, às vezes asa-delta, e faz da vida um deleite!!"
Ceumar 

terça-feira, 12 de maio de 2009

Ligações perigosas

O assunto hoje é música moderninha brasileira. 

Ontem dei de cara com o CD de Natália Mallo. Vocês, moderninhos, podem reconhecer o nome da moça por causa da banda moderninha Trash pour 4, da qual participa a percussionista Mariá Portugal. Natália e Mariá gravaram um especial para um site chamado Música de Bolso (cheio de artistas moderninhos) no qual interpretam a divertidíssima canção Banheira, que é parceria de Natália e Mathilda Kóvak, que também é parceira de Suely Mesquita, que compôs a canção Qualquer lugar, que é o título do CD de Natália Mallo.

[eu queria dizer que o adjetivo "moderninho(a)" não foi usado aqui de forma pejorativa. Escutem por si mesmos...]

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Poema

II


a gota

e sua

vida

de oceano


são fatos

da

mesma

natureza

fugaz

do 

segredo:


verdade

que não

resiste

ao olhar.




[mais um poema da série "Corpo funcional". este é da segunda parte, chamada "das formas femininas"]

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Galiléia


No próximo dia 18, participarei de um debate sobre a obra do escritor Ronaldo Correia de Brito, que recentemente lançou o romance Galiléia.

Conheci a obra de Ronaldo antes mesmo de saber ler. Explico: ele é o dramaturgo responsável por musicais que marcaram a minha infância. São as peças Arlequim, Bandeira de São João, O Baile do Menino Deus O Pavão Misterioso. Assisti a cada uma dessas peças várias vezes, em várias montagens. Até hoje lembro de todas as músicas e vou assistir sempre que alguma dessas peças é encenada.

Ronaldo também é excelente prosador. Já lançou dois livros de contos: Faca e Livro dos Homens. Além deste romance Galiléia.

Aqui está uma entrevista com ele.

E quem quiser aparecer para o debate, vai ser na Livraria Cultura do Paço Alfâdega (Recife Antigo) no dia 18 de Maio (segunda-feira), às 19h. 

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Canção portuguesa contemporânea


Deolinda é um grupo português formado por jovens músicos. Suas canções são simples e eficientes. Palavra e música, voz e violões... Pronto. Assim como o sotaque da língua portuguesa falada pelos gajos do lado de lá do atlântico, também é possível ouvir os ecos da tradição musical daquelas terras. Fado sim, misturado com uma sonoridade pop e temas do cotidiano. Até o Brasil cabe na música deles (basta ouvir a canção "Garçonete de casa de fado" para entender). Sem mais, despeço-me. Mas antes...

Cá estão os links do site oficial e do myspace da banda.

Cá está a letra da excelente "Canção ao lado"

Desculpem, doutos homens, estetas,
Espíritos poetas, almas delicadas,
A falsidade do meu gênio e das minhas palavras.

Que é a erudição que eu canto,
Que é da vida, o espanto, que é do belo, a graça,
Mas eu só ambiciono a arte de plantar batatas.

Desculpem lá qualquer coisinha
Mas não está cá quem canta o fado.
Se era p'ra ouvir a Deolinda,
Entraram no sítio errado.
Nós estamos numa casa ali ao lado.
Andamos todos uma casa ao nosso lado.

Bem sei que há trolhas escritores,
Letrados estucadores e serventes poetas;
E poetas que são verdadeiros pedreiros das letras.
E canta em arte genuína, o pescador humilde,
A varina modesta;
E tanta vedeta devia dedicar-se à pesca.

Desculpem lá qualquer coisinha
Mas não está cá quem canta o fado.
Se era p'ra ouvir a Deolinda,
Entraram no sítio errado.
Nós estamos numa casa ali ao lado.
Andamos todos uma casa ao nosso lado.

Por não fazer o que mais gosto
Eu canto com desgosto, o facto de aqui estar;
E algures sei que alguém mal disposto
Ocupa o meu lugar.

Ninguém está bem com o que tem...
E há sempre um que vem e que nos vai valer;
Porém quase sempre esse alguém não é quem deve ser.

Desculpem lá qualquer coisinha
Mas não está cá quem canta o fado.
Se era p'ra ouvir a Deolinda,
Entraram no sítio errado.
Nós estamos numa casa ali ao lado.
Andamos todos uma casa ao nosso lado.

E é a mudar que vos proponho!
Não é um passo medonho em negras utopias;
É tão simples como mudar de posto na telefonia.
Proponho que troquem convosco e acertem com a vida!


segunda-feira, 27 de abril de 2009

Corpo funcional

I

o

corpo

como

parte:


cada

membro

denota

o todo;


todo

ângulo

revela

o resto.


o

corpo

como

forma:


pureza

difícil


na

incoerência

do vivo.


o

corpo

como

luta:


apenas

dura

enquanto

sangue.



[a primeira série, chamada "das formas masculinas", tem nove poemas (por enquanto). este é o primeiro]

terça-feira, 21 de abril de 2009

As vozes de Vila-Matas

Ando às voltas com a literatura do catalão Enrique Vila-Matas, autor das melhores páginas que li nos últimos tempos. Resisti à tentação de traduzir alguma coisa antes de terminar o livro que estou lendo, mas o trecho a seguir (por sua ligação com toda a minha pesquisa sobre a voz e a palavra cantada) me fez interromper a leitura por meia-hora. Eis a tradução:


3

Tinha ouvido falar das vozes de Marrakech, mas não sabia se estas tinham realmente algo de peculiar. Talvez sejam diferentes do resto das vozes do mundo, eu me disse ao instalar-me na varanda do café de onde se divisava a praça de Xemaá-el-Fná. Deu-me de pensar que nunca se fala da cor das vozes e que talvez em Marrakech isso fosse possível. Voz terra de Siena de Petrarca, voz cor de traje de faquir hindu. Talvez em Marrakech, eu me disse, as vozes tenham cor. Não tardei em comprovar que andava certo. Aproximou-se um garçom marroquino e, ao perguntar-me o que desejava tomar, pareceu-me que sua voz, que evocava o fundo sonoro dos muezins quando dos minaretes convocam o povo à oração, era uma voz cor cal de torre de mesquita. E pedi religiosamente um chá.

Apareceu um orate de pele escura, raça negra, branca cafetã impoluta. Toda minha atenção centrou-se nele e no seu ingrávido edifício sonoro. Nunca tinha visto trejeitos tão airados e tão sobriamente compassados ao ritmo de umas vibrações acústicas, inaudíveis para mim, que se apoderavam com grande energia do ambiente e que pareciam reproduzir, no ar entrecortado pelos gestos, uma história.

Imaginei que o orate só possuía uma história e que esta falava de um tronco triste alçado como mastro. Falava dele mesmo e dos dias em que lhe dominaram as ânsias de aventura. O orate negro tinha viajado a terras longínquas e, em seu périplo, foi apropriando-se de fragmentos de histórias que dissimuladamente havia escutado. Com todos estes retalhos foi compondo o romance airado e musical de sua vida: uma história que, com ritmo sincopado e artimanhas de mímico, vendia diariamente como um sonho a um público sempre devotado e fiel, ali em Xemaá-el-Fná.

Era a história ou o resumo fictício do que tinha sido sua vida. Uma vida sintetizada em quatro gestos que clamavam ao céu e em quatro vibrações acústicas e rítmicas de voz cor fraque branco de músico de jazz. Voz de orate negro. Na verdade aquela era toda uma voz de cor.


Enrique Vila-Matas. "La fuga en camisa". In. Recuerdos inventados. Barcelona: Anagrama, 1994 [originalmente publicado em Una casa para siempre] Tradução minha. 

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Biodesagradável

Enquanto isso, em um templo de consumo qualquer...

"Ao usar este secador de mãos você está contribuindo para a saúde do planeta, pois menos árvores estão sendo utilizadas na produção de papel-toalha"

As plaquinhas (uma para cada secador) são feitas do mais puro plástico: 100% não-biodegradável.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Passagem

Peru, Junho/2008


quanto céu
cabe nas
mãos
da pedra

quando traz
em si
a mínima
porção
de infinito

necessária
ao mergulho

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Música rara brasileira

Uma canção por dia. Dessas que você não ouve por aí...

Visitem:

http://vitrolabrasileira.tumblr.com/

Boa escuta.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Bernard Noël

Segue um trecho das traducões que andei fazendo deste poeta francês. O texto original, intitulado Les états du corps (Os estados do corpo), encontra-se no livro Extraits du corps (Extratos do corpo) e é composto de onze partes numeradas.



7

No sétimo momento, o tempo recomeça. As execuções também e, por via de conseqüência - ou mesmo de causalidade - as guerras, as revoluções. O corpo recupera assim o crédito, pois torna bom o matar. Distinguimos nele a cabeça, a parte de baixo e o meio. Não estamos certos de que morrer e matar sejam o mesmo embora seja o mesmo seu resultado. Matar é um buraco, afirma uma escola; morrer é uma evasão, afirma a outra. Nos evadimos por um buraco, assegura a mais nova.

domingo, 29 de março de 2009

Observação da lua

(link da foto aqui)


I - Minguante


O escuro
nítido

como as bordas do arco
invertido

equilibra o céu
noturno.

A lua exala
uma ausência
sem espera.

Vazio
intraduzível

entre os escombros
serenos
da madrugada.

Não há
duração:

apenas as
formas mais puras

do silêncio.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Lá vem a cidade

(Lenine e Bráulio Tavares)

Eu vim plantar meu castelo
Naquela serra de lá,
Onde daqui a cem anos
Vai ser uma beira-mar...

Vi a cidade passando,
Rugindo, através de mim...
Cada vida
Era uma batida
Dum imenso tamborim.
Eu era o lugar, ela era a viagem
Cada um era real, cada outro era miragem.

Eu era transparente, era gigante
Eu era a cruza entre o sempre e o instante.
Letras misturadas com metal
E a cidade crescia como um animal,
Em estruturas postiças,
Sobre areias movediças,
Sobre ossadas e carniças,
Sobre o pântano que cobre o sambaqui...
Sobre o país ancestral
Sobre a folha do jornal
Sobre a cama de casal onde eu venci.

Eu vim plantar meu castelo
Naquela serra de lá,
Onde daqui a cem anos
Vai ser uma beira-mar...

A cidade
Passou me lavrando todo...
A cidade
Chegou me passou no rodo...
Passou como um caminhão
Passa através de um segundo
Quando desce a ladeira na banguela...
Veio com luzes e sons.
Com sonhos maus, sonhos bons.
Falava como um camões,
Gemia feito pantera.
Ela era...
Bela... fera.

Desta cidade um dia só restará
O vento que levou meu verso embora...
Mas onde ele estiver, ela estará:
Um será o mundo de dentro,
Será o outro o mundo de fora.

Vi a cidade fervendo
Na emulsão da retina.
Crepitar de vida ardendo,
Mariposa e lamparina.
A cidade ensurdecia,
Rugia como um incêndio,
Era veneno e vacina...

Eu vim plantar meu castelo
Naquela serra de lá,
Onde daqui a cem anos
Vai ser uma beira-mar...

Eu pairava no ar, e olhava a cidade
Passando veloz lá embaixo de mim.
Eram dez milhões de mentes,
Dez milhões de inconscientes,
Se misturam... viram entes...
Os quais conduzem as gentes
Como se fossem correntes
Dum rio que não tem fim.

Esse ruído
São os séculos pingando...
E as cidades crescendo e se cruzando
Como círculos na água da lagoa.
E eu vi nuvens de poeira
E vi uma tribo inteira
Fugindo em toda carreira
Pisando em roça e fogueira
Ganhando uma ribanceira...
E a cidade vinha vindo,
A cidade vinha andando,
A cidade intumescendo:
Crescendo... se aproximando.

Eu vim plantar meu castelo
Naquela serra de lá,
Onde daqui a cem anos
Vai ser uma beira-mar...

sábado, 7 de março de 2009

Sophia de Mello Breyner Andresen


Este poema já me deu muito o que pensar desde que o li pela primeira vez no início do ano...



As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas

O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra


"Ganharás o pão com o suor do teu rosto"
Assim nos foi imposto
E não:
"Com o suor dos outros ganharás o pão."


Ó vendilhões do templo
Ó constructores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito


Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Blossom Dearie


A cantora e pianista norte-americana Blossom Dearie faleceu no dia 07/02, aos 82 anos.

Ninguém dá adeus a uma artista como ela, que permanece viva em centenas de gravações e na memória dos ouvintes e fãs mundo afora.

Ouçamos!