domingo, 23 de agosto de 2009

pó ao pó

.


(que)
a
terra
traga
todo
tipo
de
tudo

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

sábado, 8 de agosto de 2009

móbile

.

do
signo

a
senha

ao
sentido

som

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

salve o silêncio

...

(só) o silêncio salva



será?

...



[gerador virtual de ruídos (branco, rosa e vermelho) aqui]

domingo, 2 de agosto de 2009

cor

Gerhard Richter 4096 cores (esmalte sobre tela, 1974)


lendo o fantástico livro Chromophobia, do artista inglês David Batchelor, encontro uma crítica concisa e bem formulada à moda interdisciplinar tão corrente no meio acadêmico, ou melhor, no discurso acadêmico...

reproduzo aqui um trechinho, esperando que sirva para aguçar a curiosidade de futuros leitores.

[a tradução é minha, mas sei que existe uma edição brasileira do livro]

"Esperava escrever um livro sobre arte, ao menos porque grande parte das coisas que já escrevi foi sobre arte, e alguém poderia pensar que há muito a dizer sobre arte em um livro sobre cor. Não foi o que acabou acontecendo. Mencionei pelo menos tanta literatura, filosofia e ciência quanto teoria da arte, e disse muito mais sobre filmes, arquitetura e publicidade que sobre pintura ou escultura. Justo: cor é interdisciplinar. Mas não me sinto confortável casualmente deixando passar alguma coisa como 'interdisciplinar'. Quero preservar a estranheza da cor; sua outridade é o que conta, não a comodificação desta outridade. O interdisciplinar é quase sempre o antidisciplinar tornado seguro. Cor é antidisciplinar"

terça-feira, 28 de julho de 2009

o poema em trânsito

nas salas de espera dos aeroportos, estações, terminais e gares da vida sempre me lembro deste poema de alice ruiz:



pessoas
com suas malas,
mochilas e valises
chegam e se vão
se encontram, se despedem
e se despem dos seus pertences
como se pudessem chegar
a algum lugar
onde elas mesmas
não estivessem



(do disco Paralelas, de Alice Ruiz e Alzira Espíndola)

sábado, 18 de julho de 2009

terça-feira, 7 de julho de 2009

Décio Pignatari


"A poesia parece estar mais do lado da música e das artes plásticas e visuais do que da literatura [...] De fato, a poesia é um corpo estranho nas artes da palavra. É a menos consumida de todas as artes, embora pareça ser a mais praticada (muitas vezes às escondidas)"

"Um poema transmite a qualidade de um sentimento. Mesmo quando parece estar veiculando idéias, ele está é transmitindo a qualidade do sentimento dessa idéia. Uma idéia para ser sentida e não apenas entendida, explicada, descascada. A maioria das pessoas lê poesia como se fosse prosa. A maioria quer 'conteúdos' - mas não percebe formas. Em arte, forma e conteúdo não podem ser separados. Perguntava o poeta Yeats: "Você pode separar o dançarino da dança?" Quem se recusa a perceber formas, não pode ser artista. Nem fazer arte" 

In. O que é comunicação poética. 8 ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2005.

domingo, 5 de julho de 2009

aquela que vê



acabei de assistir ao filme estamira com a certeza de que as muitas questões levantadas ali ainda vão rodar na minha cabeça por muito tempo... enumero aqui as principais para não haver perigo de me esquecer no meio da correria de sempre:

- lucidez e loucura são aspectos fundamentais da humanidade. não são excludentes e quase sempre convivem em harmonia. uma e outra podem (de maneiras diferentes) nos ajudar a enxergar mais longe.

- a consciência de se saber parte de um conjunto maior é um dom precioso e raríssimo. 

- não há violência que faça gente deixar de ser gente: a única coisa capaz de anular a humanidade de alguém é a vontade da própria pessoa.


recomendo o filme.


sexta-feira, 3 de julho de 2009

sítio

comunico a inauguração de meu sítio oficial (uia) no seguinte endereço:


uma página simplinha, mas arrumadinha. vai melhorando com o tempo. visitem!

p.s. sim, este blog continuará firme, forte e atualizado conforme houver coisas a dizer (que prezo muito meu direito de ficar calado).

terça-feira, 30 de junho de 2009

cena muda

cena do espetáculo Arien (foto de Jochen Viehoff)


Um minuto sem movimentos em honra a Pina Bausch, que faleceu hoje aos 68 anos.


quinta-feira, 25 de junho de 2009

distorção

“forma nada mais é que a intenção do contexto”



a

con/tenção

do

texto

que

nada

mais

in/forma:


é.


quinta-feira, 18 de junho de 2009

Consumidor

.

pessoa-

não


anti-

ter;


consumo

de si


sumo

do ser.


leis

não tornam

o torto


direito:


persiste

o mesmo


de(s)feito.


assim

se escreve

ex-cidadão


ex-humano


exumado:


escravo.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Mudanças

(D’après Márcio Seligmann-Silva)


I


entre

mímesis

e metafísica


sempre

as mesmas

armadilhas.


imanência

mutante

da essência


dança

da memória

sem fio


ou cadência.



II


história

vária


reduzida

ao idioma


do instante.


fotografia

falada


de uma

paisagem


que apenas

se pensa


estanque.



III


penso

na poesia:


fogo-fátuo.


poesia

que clareia


pontuando

o escuro


de rastros.



IV


suspeita

fidelidade


de ares

iluministas

sopesando

a arte.


a claridade

do fogo


existe apenas

quando

consome


toda verdade.



V


co-incidência

de vislumbres:


transparência

tresperância.


movimento

dos costumes:


esgotamento

da essência,


sabedoria

da errância.



VI


no deserto

é o

olho


quem molda

as formas


do horizonte.


no deserto

é o

olho


quem forma

as normas


dos contornos.


no deserto

somos

o olho.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

A levesa e o pezo


É possível coreografar a ausência? Que movimento corresponde ao silêncio? Como revelar o invisível?

Essas perguntas são respondidas com grande maturidade artística ao longo do espetáculo Leve, concebido e protagonizado pelas bailarinas Renata Muniz e Maria Agrelli.

O espetáculo é um mergulho interior, amparado por uma atmosfera visual e sonora que parece liberar tempo. As bailarinas nos fazem viver o nó da dor e o colo da saudade; o peso da queda e a leveza de voltar a se levantar. Leveza lavada com lágrimas.

Lembro as palavras de Bachelard: "O sonhador se vai à deriva. Um verdadeiro poeta não se satisfaz com essa imaginação evasiva. Cada poeta nos deve, então, seu convite à viagem [...] Uma realidade iluminada por um poeta tem ao menos a novidade de um esclarecimento inédito. Porque o poeta nos revela uma nuance fugidia, aprendemos a imaginar toda nuance como uma mudança. Apenas a imaginação pode ver as nuances, ela lhes alcança na passagem de uma cor a outra" (L'air et les songes)

Maria e Renata são poetas verdadeiras. Elas fazem dançar a imaginação e despertam nossa percepção para o movimento das cores da vida que se desprende do luto e da incompreensão pela dor da perda.

Leve é um espetáculo de dança. Entretanto, o corpo não reivindica para si o papel de instrumento principal. Os movimentos são mínimos, preci(o)sos, e muitas vezes se deixam apagar pela música e pelo cenário: na dança do invisível, o corpo sabe se calar para que fale aquilo que não se traduz em gesto.

O grande feito das artistas é nos fazer sentir na pele a densidade da leveza e o lado etéreo do peso (aprendizado possível apenas com a vivência). Ao sairmos do espetáculo, permanece a clara sensação de termos partilhado a sabedoria de uma humanidade profunda.

Agradeço de coração.


quinta-feira, 4 de junho de 2009

Seminário Intersecções



Divulgando o Seminário Intersecções, que acontece na UFPE nos dias 09 e 10 de Junho e reúne idéias sobre arte, ciência e tecnologia. Na ocasião será lançado o livro Intersecções, uma coletânea de artigos produzidos pelos alunos do Programa de Pós-Graduação em Letras da UFPE, com colaborações da UFAL e da Universidade de Coimbra. O livro traz ainda um conto inédito do poeta Joaquim Cardozo.

Eu vou mediar uma mesa no dia 10/06, a partir das 13:30. Falarei sobre corpo e mídias na performance da canção.

Informações, programação e inscrição (gratuita) aqui.

Apareçam!

terça-feira, 26 de maio de 2009

experiências estrangeiras

[métrica japonesa, idioma inglês, tentativas iniciais]


English Haiku



the void voice of rain

whispers to the street beggar

a song of regret



moss on the full moon:

toads mistake it for a stone

in the mating pond



spring breeze is serving

the lazy caterpillars

green sprouts for breakfast



grains of sand in sight:

the wind keeps me from looking

at my lover’s eyes



my mother told me

my verse was right as a plum:

sweet little white lie



bright red tomato

falls down on the kitchen floor:

salad’s on the house



time of autumn leaves:

every poet’s fallen words

get swept away too



“later” - I was told

“now or never” - I replied

silence still resounds




.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Debate e cantoria

PPGL & CRISPIM: Canção popular

 

O Programa de Pós-graduação em Letras da UFPE, em parceria com a revista Crispim (www.revistacrispim.com) promoverá, no próximo dia 28 de Maio, a partir das 19:00 h, um debate sobre o tema Canção popular. Os editores da Crispim conversarão com Conrado Falbo (músico e aluno do Programa de pós-graduação em Letras da UFPE) e Peron Rios (professor e pesquisador).

A música erudita e a música popular são tão diferentes uma da outra o quanto pensamos? Ainda é pertinente o reiterado debate sobre o estatuto literário das letras das canções populares? Que desafios teóricos a pesquisa sobre canção popular cria para o pesquisador e crítico? Existe um conceito satisfatório do que seja música popular? Há formas poéticas que são mais adequadas à canção do que outras? O que é performance e como este conceito pode nos ajudar a entender a realização das canções?

Estes e outros temas estarão na pauta do nosso debate, que não somente contará, como cantará: além dos debatedores, teremos a presença das cantoras Adryana BB e Aparecida Silvino que, junto com Conrado Falbo, mostrarão um pouco das suas canções.

 

PPGL & CRISPIMCanção popular

Data: 28 de Maio, a partir das 19 h.

Local: Livraria Cultura.

Convidados: Conrado Falbo & Peron Rios + Adryana BB & Aparecida Silvino

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Zé Rodrix

Conheci Zé Rodrix em 2005 e ele cantou uma composição chamada "Sempre que eu vou morrer". Nunca deixei de ouvir os ecos desta canção, que hoje ganhou um significado novo...

Sempre que eu vou morrer
(Zé Rodrix e Alexandre Lemos)

Sempre que eu vou morrer
Antes eu me preparo
Tanto pra esquecer
Quanto pro itinerário
De voltar a nascer
Quando for necessário

Sempre que eu vou morrer
E isso não é tão raro
Cuido pra não sofrer
Dentro desse mistério
Trato de compreender
Que nada é assim tão sério

Tempo vem e tempo vai
Água e terra, mãe e pai
Quem enfrenta o nascimento
Ganha a morte no final
Vou descendo e vou subindo
Numa mesma espiral
Uma estrada tão comprida
Onde a vida é imortal

Sempre que eu vou morrer...

Sempre que eu vou morrer
Eu fico triste, é claro
Pela dor de perder
O gozo e o martírio
Ainda bem que viver
Pode ser só delírio

Tempo vem e tempo vai
Água e terra, mãe e pai
Quem enfrenta o nascimento
Ganha a morte no final
Vou descendo e vou subindo
Numa mesma espiral
Uma escada tão comprida
Onde a vida é imortal

Sempre que eu vou morrer...

Sempre que eu vou morrer
Respiro fundo e paro
Esperando por bem
Que seja a derradeira
Mas cada morte que vem
parece sempre a primeira



Ouça aqui

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Mario Benedetti

Morreu ontem aos 88 anos o poeta uruguaio Mario Benedetti.

Benedetti hoje vive em sua obra, que já inspirou tantos (inclusive este que vos tecla).

Lá vai Benedetti:

OTHERNESS

Siempre me aconsejaron que escribiera distinto
que no sintiera emoción sino pathos
que mi cristal no fuera transparente
sino prolijamente esmerilado
y sobre todo que si hablaba del mar
no nombrara la sal

Siempre me aconsejaron que fuera otro
y hasta me sugirieron que tenía
notorias cualidades para serlo
por eso mi futuro estaba en la otredad

El único problema ha sido siempre
mi tozudez congénita
neciamente no quería ser otro
por lo tanto continúe siendo el mismo

Otro si digo / me enseñaron
Después que la verdad
Era más bien tediosa
El amor / cursi y combustible
La decencia / bastara y obsoleta

Siempre me instaron a que fuera otro
Pero mi terquedad es infinita

Creo además que si algún día
me propusiera ser asiduamente otro
Se notaría tanto la impostura
que podría morir de falso crup
o falsa alarma u otras falacias

Es posible asimismo que esos buenos propósitos
sean sólo larvadas formas de desamor
ya que exigir a otro que sea otro
en verdad es negarle su otredad más genuina
como es la ilusión de sentirse uno mismo

Siempre me aconsejaron que escribiera distinto
pero he decidido desalentar / humilde
y cautelosamente a mis mentores

En consecuencia seguiré escribiendo
igual a mi o sea
de un modo obvio irónico terrestre
rutinario tristón desangelado
(por otros adjetivos se ruega consultar
criticas de los últimos treinta años)
y eso tal vez ocurra por que no sé ser otro
que ese otro que soy para los otros.