terça-feira, 11 de março de 2008

A Lua

o escuro é líquido. eu poderia ver todas as cores do invisível se abrisse os olhos. em vez disso, estendo as mãos. enxergo formas submersas. seres que dormem num mar de sonho. irmãos da espera. de repente, sinto que me tocam o rosto. e são meus próprios dedos tateando. do lado errado do espelho. o espanto agita os braços, como se nadasse.

a noite é líquida. as cores dos seres que eu não vejo se misturam às ondas do mar de águas negras. o olho do céu se abre acima do mundo. compasso de espera. três sonhos me foram enviados. três sonhos que me tocaram a fronte sem que eu acordasse. movimento invisível escrevendo caminhos na superfície do nada. torpor.

a vida é líquida. o corpo vibra em desespero. tenta fluir. mas não pode respirar. não existe fundo na alma noturna. a pele molhada acorda apenas quando a lâmina mistura o dentro e o fora. neste ponto exato, começa a vida.