domingo, 29 de março de 2009

Observação da lua

(link da foto aqui)


I - Minguante


O escuro
nítido

como as bordas do arco
invertido

equilibra o céu
noturno.

A lua exala
uma ausência
sem espera.

Vazio
intraduzível

entre os escombros
serenos
da madrugada.

Não há
duração:

apenas as
formas mais puras

do silêncio.

2 comentários:

nando disse...

Poemângulo

Eduardo Araújo disse...

PeloamordeDeus, que beleza de poema, tão zen, tão Koan, tão geométrico. Investimento no plasticidade da imagem, o que o faz muito visual, com ou sem a fotografia. E sinto aqui, no presente poema, o quanto de definição (mesmo que não goste) está em sua busca pela poesia. E neste processo, vai racionalizando-a, minguando o verso que contamina o tema, buscando traduzir o "vazio/intraduzível". Gosto, mas penso se o poema assim não fica mais frio, que Cabral equilibrava com aquele ritmo único, que Orides (limando drummond, chegava ao osso com ganho de delicadeza). O caminho me parece o do Régis Bonvicino, que é um poeta para o intelecto. Eu li, gostei, e pensei na lua Satélite do poema de Bandeira. Senti falta de algum desacerto nesta simetria toda. Uma desordem espiritual, menos analítica, humanizada. Como o encaixe da palavra "cu" num poema espiritual de Adélia Prado, que os concretos nunca souberam ler.