quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Lido

quem me lê não entende. não escrevo ficção. realidade líquida, noves fora, texto fluido nascido do instante-agora em que tudo existe. fiel. tudo é filho do mesmo tempo e se vai na mesma velocidade com que o olho esquece o texto por que já passou. o já lido.

quem me lê não me entende. quero dizer o que digo. não troco nomes para preservar pessoas. identidades foram feitas para serem gastas no uso. e na sola dos meus papéis ficam as marcas do não escrito. até isso se registra por si mesmo. aquilo com o que não lido.

sou uma pessoa lida. por várias outras. alguns trazem o conhecimento de línguas segundas por julgarem compartilhada uma estrangeiridade. outros vêm com teorias sobre pontes e muros. ainda há os que preferem as lentes do olho nu. e todos estranham quando os sismógrafos nada acusam.

meu texto é claro para quem sabe escutar. de mãos vazias. sem vontade de compreender. não ofereço mapas além dos caminhos das palavras. todas as portas estão abertas. traço, linha a linha, o esboço de uma nova e inútil arquitetura. câmara de ecos num mundo de surdos-mudos.

a estrada silenciosa quase não mais se distingue da paisagem. e os livros continuam dormindo enquanto não aparece quem os abra.

Um comentário:

caju disse...

"E os livros aparecem dormindo enquanto não aparece quem os abra", adorei isso. Meus livros estão dormindo, a maioria deles. Não tenho conseguido andar nem pra frente e nem pra trás... Se ao menos eu abrisse alguns livros...
Beijo.