sábado, 12 de abril de 2008

maré areia, mareia

o azul do mar só existe à noite. é ficção de lua. assim como o branco da areia é constraste invisível durante o dia. os oceanos do sul do hemisfério-mundo nasceram sob o signo de outras cores. aquarela de verdes misturados pelas ondas. se enxerga mais no barulho da arrebentação que na superfície das águas.

o mar como tema se desbota nas folhas do caderno. nos códigos das letras. não existem páginas aquáticas. não existem versos escritos n'água. não existe nada. apenas o cheiro de sal na brisa. já vento. violento.

os barcos cavalgam a linha do horizonte e se perdem por dentro das nuvens que tocam o teto do mar. fundo do abismo invertido de mais um afogado. mãos ao alto. sem saída. lágrimas por dentro da máscara do homem-rã que sempre chega atrasado.

peixes ao longe, voando como bailarinas. abrem-se as cortinas no cortante do arrasto. a rede descansando na areia é o fim da linha. restos de sargaço, sandálias. sentados, os pescadores contabilizam os estragos. e um cardume de crianças acena com os olhos suas vontades de mergulho.

Um comentário:

Anônimo disse...

Belo post, Con! Quase posso sentir o sal grudando na pele. Um grande beijo!